quarta-feira, 17 de março de 2010

OS OLMOS SÃO ÁRVORES

Devo admitir que talvez exista no rosto não totalmente desconhecido da experiência psicanalítica genuína da arte um desejo queimando continuamente. Como vês, não posso parar no ar o passo! Certamente necessidade ou justificativa não há para ser sensato recitando dramas Bukowskianos em séries de variações sobre a mesma mancha. A produção atual chama a atenção para o abismo. Creio mesmo que temia pela indomabilidade da carreira brilhante para a qual convinham minhas ilusões, enquanto isso, minha arte soava solene e impregnada da poesia européia do medievo. As patas trêmulas sobre a nuca do demônio em fuga e, em seguida, a textura cada vez mais experimental. A cor fugidia e esmaecida que contrapõe-se á luz desinteressante da composição. Dedos vagos e amedrontados tateando o conceito de que as folhas caem sobre o que independe de ser pensado pelo arteófito. A academia inexiste. A autodidática inexiste. A arte inexiste em toda a sua imperfeição, mas imperfeição é o cerne da busca assim como o desequilíbrio é a espinha dorsal de toda dança. Os olmos são árvores, azuis turquezas, brancas, ocres e vermelhas. Há uma espécie de alívio personificando o indiscutível. A arte está pálida e gorda. Anorética e carbonizada. Uma assombração erotizada a quem convêm suportar o peso encravado da transformação árida e berrar estorvo aos pseudointelectuais. Acho que meu olhar de açougueiro nunca a viu tão bela !

Selistre